SORTE E DIFICULDADES

Marcos Pontes
24/09/2008

Muitos jovens deixam de usar seu grande potencial pessoal com eficiência simplesmente por estarem limitados pelas suas próprias idéias e crenças irreais. Quando conversamos com essas pessoas, é comum ouvir coisas como: “eu não tenho essa sorte”, “eu não sou inteligente o bastante”, “ninguém em nossa família jamais foi ou será formado”, “eu detesto estudar”, “isso é muito difícil para mim”, “eu não tenho sonhos, simplesmente deixo a vida me levar”, “eu não mereço ter sucesso”, etc.

Isso é muito, mas muito triste mesmo! Uma das minhas grandes batalhas é despertar os “sonhos e a possibilidade” dentro desses jovens. Se você é uma dessas pessoas que usam esse tipo de “frases de defeito”, eu gostaria de dizer algumas coisas para você a respeito de “sorte”, responsabilidade, culpas e méritos.

Primeiro, substitua a palavra “sorte” pela palavra “trabalho”.

Muita gente fala de “sorte” como o fator essencial para a realização de algo importante na vida ou a participação em eventos de importância na história da humanidade. Obviamente, isso é apenas um artifício psicológico comum do ego humano para justificar a própria falta de disposição, coragem ou competência para expor-se aos desafios e arriscar-se a ter falhas, ou vitórias!

Por exemplo, no meu caso, já ouvi centenas de vezes a seguinte frase: “Puxa! Como você teve sorte na vida!” Observe que, na ilusão das pessoas que falam e acreditam esse tipo de coisa, é como se a realização de uma missão espacial, ou de qualquer outra atividade do mesmo nível, fosse resultante do acaso, sem que nenhum esforço pessoal e intenso trabalho ao longo de muitos anos, fossem importantes ou necessários. Apenas a “sorte”.

Então, para essas pessoas “derrotadas antes da batalha”, uma vez convencidas da própria ilusão, fica fácil justificar: “Ah! Eu não tenho essa ‘sorte’, portanto eu nunca teria a chance de realizar algo assim, de qualquer forma”.

Se você pensa dessa forma, “agora” é a hora de começar a mudar de idéia. Não espere pela “sorte”.

Outro ponto importante, e infelizmente também usado freqüentemente para alimentar ilusões ou crenças irreais, é imaginar que uma grande realização envolve apenas “momentos bons”! Isto é, muitas pessoas pensam como se não existissem dificuldades a serem vencidas e nenhum sacrifício envolvido ao longo da jornada para o sucesso.

A notícia ruim para essas pessoas é que sempre será necessário enorme sacrifício pessoal para vencer os desafios que existem antes, durante, e depois, de atingir seus objetivos. A notícia boa é que todos têm chances de realizar seus sonhos e ideais. Só depende, na verdade, da sua determinação e disposição para trabalhar.

No meu caso, por exemplo, as condições iniciais eram difíceis. Venho de família humilde do interior de São Paulo e comecei a trabalhar com 14 anos para ajudar no orçamento de casa. Ter estudado em escolas públicas e ter tido educação na Força Aérea foram condições que eu encontrei na minha jornada. Isso foi importante? Claro que foi! Mas, assim como eu, milhares de outros jovens tiveram exatamente as mesmas condições, e mais ainda, outros milhares tiveram condições muito melhores.

Então, o que fez a diferença, realmente? Simples! O que realmente faz a diferença para uma pessoa ter sucesso, ou não, é o “preço que ela está disposta a pagar” para isso. Ou seja, no seu caso, qual o sacrifício pessoal que você está realmente disposto a enfrentar para conquistar os seus sonhos?

Portanto, tenha grandes sonhos, mas não espere que qualquer conquista possa ser realizada sem sacrifícios pessoais. Também não tenha a ilusão que ter condições adequadas, como receber ensino público de qualidade, irá garantir o seu sucesso.

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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